"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita."
(Carlos Drummond de Andrade)
Olho para o meu lar, observo as loucuras tão silentes que se deitam ao meu lado tão discretas, que passam quase a não existir , se não fossem as memorias e os gritos sinceros que disparam nos pequenos detalhes, não lembraria mais da minha solidão.
Mas acordo diferente , olho defronte das minhas limitações que se não fossem tão forte me fariam infeliz, como pode viver um super herói, sem medo?
Me pergunto sobre o valor do que vivemos sem o pesar e o receio do erro....
Quantos foram os tais ?
E quando os quantos tais se foram ?
Se foram ?
E se fossem? levariam tudo que tinha , tudo que me foi dado , e tudo que roubei de outros tantos, e quantos são ?! Não sei .
Esses marcapassos do destino que me faz cair nas mesmas duvidas que já não interessam mais aos meus amores.
Amei.
E aprendi que o permanente é um status de pobreza de alma , de comodismos das próprias opções que ignoramos, da certeza, que é tão miserável e tortuosa quanto a duvida, por que peca em seu principio e falha.
Das minhas mentiras sobraram aquilo que não declarei , e daquilo que por desleixo se fez verdadeiro; não procuro mais a chance , nem recupero esforços, agora sei que se foi , e convivo melhor com a perca daquilo que nunca ousou ser meu.
Conheço o meu abrigo e mesmo que ele esteja invadido de teóricas decisões ainda é lugar mais seguro; pela legitimidade.
Estou educando minha sobrevivência, para que ela possa perceber , que a liberdade não tem dono, nem moradia,isso inclui os cosmos , as estrelas e os cardiopatas e os amantes.
entrelinhas...
".. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida..."
Clarice Lispector
Um lugar incomum..
"Viver é ser outro,nem sentir é possível,se hoje se sente como ontem se sentiu,sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir;é lembrar hoje o que se sentiu ontem,ser hoje o cadáver vivido do que ontem foi a vida perdida."
Fernando Pessoa.
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