entrelinhas...

".. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida..."
Clarice Lispector

Um lugar incomum..

"Viver é ser outro,nem sentir é possível,se hoje se sente como ontem se sentiu,sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir;é lembrar hoje o que se sentiu ontem,ser hoje o cadáver vivido do que ontem foi a vida perdida."
Fernando Pessoa.

domingo, 15 de setembro de 2013

Cas(con) tigo



"A lição do revés torna a gente mais aberto, mas perto do melhor. As vezes amar dói. Mas é preciso."
                                                                                                             Cris Nicolotti


É estranho, e chega a amedrontar, como você se aproxima fácil e reconstrói aquilo que mesmo destruiu, como com tanta delicadeza abraça todas as pessoas da minha pessoa e me envolve com esperança e desespero, trazendo a vida um amor estéril e cansado, sem pretensão de recomeço; mas me envolve com sua presença naquela solidão autônoma, a sensação do seu calor por perto me sopra angustia, eu paraliso todos os sentido para tentar passar por você ilesa; inútil, você me invade sem pedir, você me traga sem esforço, me esgota sem intenção, me carrega de sentidos e me sinto isca eterna da minha fragilidade, do seu espaço, da minha carência ,do seu gosto, da minha confusão, do seu contato, do seu tom. Não existe interesse, nem audácia nos seus gestos , por que quem os dá sentido sou eu, você existe e isso basta para que secretamente minha alma conte histórias e te faça ator, é a minha falta de compaixão comigo que te faz impregnar nas paredes, carrego uma tempestade no peito para tentar constantemente afogar essa saudade puta que insiste em se doar a tí de graça, não existe migalhas, só existe um cinzeiro sujo, um chão encardido de lagrimas carregadas culpa por existir, quando eu tento te fazer ir embora, meu pensamento me escraviza da forma mais cruel, inibindo meu prazer, no único momento da minha mais ardente verdade, você despedaça gemidos e transforma suor em tédio e desgraça. É uma náusea, um desencanto, um mal silente que se propaga em sonhos e vontades.
É assim que dilacera meu ego e conflita permanentemente com a liberdade de alguém limpo para seguir, despeja longas doses de piedade e parti. Me deixa apenas com o cadáver da felicidade e a ressaca de perceber que as doses, a insônia, os sonhos, o colo a qualquer hora e nem todas as palavras compreensivas trarão o seu amor até mim.