"Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei.
Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma..."
Não sei quantas almas tenho -Fernando Pessoa
Eu não me perdi.
Nada mudou.
O céu segue na mesma coloração, o mar ainda não tem fim, a fotossíntese ,o ar, a fumaça e o universo;nenhuma nova descoberta, nada de cura para a doença que não existe.
Ainda continuo sendo observadora assídua de cadáveres celestes, sim;ainda as observo.
Essa estranheza,essa indiferença a mim mesma...
e essas outras milhões de coisas que fui , que erroneamente formam o que sou..
e nessas tardes percebo sob o toque das chuvas ,que tudo se foi ..
sentindo como se não existisse nada ,como coisa que viveu e esqueçeu ...
Uma história nua e sedutora, que o tempo escondeu, o comodismo afastou, e o medo encobriu...
O brilho de sí próprio levou as certezas, e hoje me desconheço e procuro pedaços de mim por toda parte ,daqueles que fingi cai para que alguém encontrasse,daqueles que me arrancaram e dos que troquei em busca do meus desejos;e o que sou hoje ?
Perdi a dimensão de mim ...
Quando penso que tudo se foi,surge entre os escombros uma fraca batida,uma pulsação,que mais parece um grito de socorro ;sim, ainda existo,ainda estou aqui , encontro aos poucos a essência de mim ...não estou enganada..
Na busca incessante da minha subjetividade, encontro um presente dado a minha descendência,olhei nos olhos depois de muito titubear , e encontrei, dentro daquela figura submissa e arrogante os olhos de uma menina que acreditava em um mundo coberto de chocolate,aquele presente refletia o corpo marcado por histórias, por pessoas,e pela dor de ser eu mesma. Aqueles olhos que por serem puros eram tão cruéis, porque eles perguntavam o que vc fez comigo? e o que vc fez do que fizeram de vc ?
Com pequenos fragmentos de vida espalhado por cada parte desfragmentada de corpo,sádio e pedinte,ansiando por doses de amor,respirando a ardente atmosfera do desprezo,misturado com fios soltos de um intenso desejo que tudo se acabe ...
A sincronia das lágrimas traziam-me a verdade.
Mas mesmo tudo ao contrario,envolvido em tanta culpa consegui me fazer sentir levemente confortável, porque embora o tempo tenha sido severo, a menina que procurava dentro de mim pra reconstruir o meu mundo ainda estava viva ...isso quer dizer que ainda sou eu...
"O homem deve ser inventado a cada dia."
Jean Paul Sartre
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