entrelinhas...

".. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida..."
Clarice Lispector

Um lugar incomum..

"Viver é ser outro,nem sentir é possível,se hoje se sente como ontem se sentiu,sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir;é lembrar hoje o que se sentiu ontem,ser hoje o cadáver vivido do que ontem foi a vida perdida."
Fernando Pessoa.

sábado, 22 de janeiro de 2011


"Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei.
Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma..."         
                                              Não sei quantas almas tenho -Fernando Pessoa


Eu não me perdi.
Nada mudou.
O céu segue na mesma coloração, o mar ainda não tem fim, a fotossíntese ,o ar, a fumaça e o universo;nenhuma nova descoberta, nada de cura para a doença que não existe.
Ainda continuo sendo observadora assídua de cadáveres celestes, sim;ainda as  observo.
Essa estranheza,essa indiferença a mim mesma...
e essas outras milhões de coisas que fui , que erroneamente formam o que sou..
e nessas tardes percebo  sob o toque das chuvas ,que tudo se foi ..
sentindo como se não existisse nada ,como coisa que viveu e esqueçeu ...

Uma história nua e sedutora, que o tempo escondeu, o comodismo afastou, e o medo encobriu...
O brilho de sí próprio levou as certezas, e hoje me  desconheço e procuro pedaços de mim por toda parte ,daqueles que fingi cai para que alguém encontrasse,daqueles que me arrancaram e dos que troquei em busca do meus desejos;e o que sou hoje ?
Perdi a dimensão de mim ...
   Quando penso que tudo se foi,surge entre os escombros uma fraca batida,uma pulsação,que mais parece um grito de socorro ;sim, ainda existo,ainda estou aqui , encontro aos poucos a essência de mim ...não estou enganada..

Na busca incessante da minha subjetividade, encontro um presente dado a minha descendência,olhei nos olhos depois de muito titubear , e encontrei, dentro daquela figura submissa e arrogante os olhos de uma menina que acreditava em um mundo coberto de chocolate,aquele presente refletia o corpo marcado por histórias, por pessoas,e pela dor de ser eu mesma.  Aqueles olhos que  por serem puros eram tão cruéis, porque eles perguntavam o que vc fez comigo? e o que vc fez do que fizeram de vc ?
Com pequenos fragmentos de vida espalhado por cada parte desfragmentada de corpo,sádio e pedinte,ansiando por doses de amor,respirando a ardente atmosfera do desprezo,misturado com fios soltos de um intenso desejo que tudo se acabe ...
  A sincronia das lágrimas traziam-me a verdade.
  Mas mesmo tudo ao contrario,envolvido em tanta culpa consegui me fazer sentir levemente confortável, porque embora o tempo tenha sido severo, a menina que procurava dentro de mim pra reconstruir o meu mundo ainda estava viva ...isso quer dizer que ainda sou eu...


"O homem deve ser inventado a cada dia."
                                                  Jean Paul Sartre




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